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Robinhood, aquele que toma de volta o que era de direito do Suriname



Luz aos esquecidos, onde aqueles andarilhos do futebol vo parar. Onde as traves esto desalinhadas e o campo mal demarcado. Onde os cachorros invadem o gramado e o VAR no foi convidado. Onde?

O herói dos pobres, dos desafortunados e injustiçados. Robin Hood é parte do folclore e da cultura inglesa, mas anda espalhando suas peripécias também pela América. Robinhood é um clube do Suriname, vizinho esquecido não só pelo Brasil, mas pela Conmebol, que apesar de baseado na América do Sul disputa as competições da América Central, do Norte e Caribe, da Concacaf. Robinhood tomou de volta o que era de direito dos surinameses: uma vaga na Liga dos Campeões.

A história é complexa, já adianto, para um universo que parece tão distante quanto a lua, porém está ali colado com o Pará e o Amapá, numa fronteira erma da maior floresta do mundo. O Suriname, assim com as Guianas, é filiado por clubes e seleção à Concacaf não apenas pelo desnível técnico que teria na Conmebol, como também por uma questão cultural, algo que a simples geografia continental não resolve.

Ex-colônia holandesa, o Suriname está mais próximo dos hábitos caribenhos, onde tem mais raíz comum dos Países Baixos com Aruba e Curaçau, por exemplo, do que com o português brasileiro ou o espanhol latino. Ou seja, apesar de a Conmebol supostamente abrenger os países da América do Sul, seria mais correto dizer que faz isso com a América Latina. Pronto. Mas e o Robinhood com isso?

Direito adquirido

A Liga dos Campeões da Concacaf, conhecida popularmente como Concachampions, renasceu em um novo formato a partir de 2009, com o objetivo de revolucionar a competição. A decisão foi técnica, para atrair mais o interesse dos mexicanos, que à época ainda disputavam a Libertadores, e também econômica, com a proposta de um calendário mais robusto. Tudo isso aconteceu em um momento que a Major League Soccer, dos Estados Unidos, vinha em crescimento com a recém-chegada de David Beckham ao Los Angeles Galaxy.

O problema foi que, para o renascimento da Liga dos Campeões da Concacaf, era necessária uma ruptura com o que se conhecia até então: a Concacaf Champions Cup, ou Copa dos Campeões da Concacaf. Na teoria, o torneio apenas passaria por um rebranding, mas seguiria o mesmo. A tal Copa dos Campeões já era a principal competição da federação e era utilizada, assim como a Concachampions, como critério de classificação para o Mundial de Clubes.

Acontece, porém, que quando a Concacaf decidiu revolucionar a competição, ela esqueceu – ou optou por esquecer – os mais pobres. Na Liga dos Campeões não havia espaço para Suriname, Curaçau ou outros dos tantos países filiados à federação. As vagas garantidas são apenas para a elite, leia-se México e Estados Unidos, o resto, basicamente, “que se vire” para classificar. E é isso que o Robinhood fez.

Vai ter Suriname sim!

Em um novo rebranding, a Concacaf promete para a próxima temporada uma disputa maior do que se viu nos últimos anos. No lugar do sistema com que se iniciava diretamente nas oitavas de final com 16 clubes, a partir de 2024 serão 27 equipes, com cinco vagas para o México, cinco para os Estados Unidos, cinco para aqueles que disputam a Copa da América Central, três para o Canadá e, finalmente, duas para quem disputa a recém-criada Copa do Caribe. É aí que o Suriname entra.

A Copa do Caribe teve disputa iniciada no mês de agosto com clubes de Trindad e Tobago, Martinica, República Dominicana, Jamaica e Suriname. O representante surinamês é o Robinhood, campeão nacional, mas que teve de vencer antes ainda outra competição: a Copa dos Campeões do Caribe, que envolvia ilhas ainda mais remotas como São Martinho, Cayman e Santa Lúcia.

O Robinhood, apesar do longo e confuso caminho, conseguiu na noite de quinta-feira (2) o feito de devolver Suriname ao principal torneio da Concacaf. Depois de ser campeão nacional e da Copa dos Campeões, o clube se tornou finalista da Copa do Caribe e garantiu sua vaga na próxima Champions. Com isso, pela primeira vez desde a década de 90, um clube do Suriname voltará a disputar o principal torneio da federação.

Num passado distante, o Transvaal, do Suriname, foi bicampeão do torneio predecessor da Champions, enquanto o Robinhood foi vice cinco vezes. Em 2024, cabe ao Robinhood a missão de dar aos pobres, mais uma vez, a oportunidade de competir com os ricos. A primeira missão, que era o direito de sonhar, já foi conquistada.



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