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Palestina, Síria e as lições ao mundo (da bola)



Luz aos esquecidos, onde aqueles andarilhos do futebol vo parar. Onde as traves esto desalinhadas e o campo mal demarcado. Onde os cachorros invadem o gramado e o VAR no foi convidado. Onde?

Poucas coisas são inéditas no passado recente para Palestina e Síria. A guerra, os ataques, os bombardeios, a desconfiança internacional e as mortes são parte de uma rotina tão presente quanto cruel e que se torna praticamente sinônimo do que essas nações são, independente de quem lá vive ou da história que carregam.

Quem diria, num contexto sócio-humanitário desolador, que em uma rachadura no deserto aparece uma flor, a bola entra no gol em um relvado verde, macio, milimetricamente calculado e com padrão Fifa. A torcida comemora, as lágrimas escorrem, mas pela primeira vez em muito tempo é por uma novidade: venceram.

Na guerras não há vencedores, diria qualquer diplomata da política internacional. Frase pronta de fácil aplicação quando feita de um palanque, com terno, gravata, sorrisos e apertos de mão para a televisão. A imagem importa. Mas sempre me perguntei: se na guerra não há vencedores, por que então é que existem tantos perdedores?

Se não há vitórias na guerra (e estou certo de que tudo segue igual no panorama político na Palestina e na Síria), onde esses países venceram? Num esférico, que não é o mundo, mas onde as coisas podem ser resolvidas em um pé de igualdade muito mais justo: na bola. Na Copa da Ásia.

Pé de igualdade, mesmas circunstâncias ou situações, é claro, não é verdade. A seleção palestina foi para a Copa da Ásia sem ter onde treinar, itinerante e mais preocupada em sobreviver. Neste momento, os palestinos jogam sem nem saber como, se e para onde voltar. Mas jogam como nunca e, pela primeira vez, chegaram tão longe – se classificaram para as oitavas de final da Copa da Ásia e estenderam a bandeira num território “neutro”, no Catar, que sedia a competição, onde têm a rara certeza de segurança.

A Síria, em guerra há mais de 10 anos, desde a Primavera Árabe, pode até ter sido esquecida pelo noticiário internacional. Existe uma teoria do jornalismo que todo e qualquer fato dura até 15 dias, afinal depois de duas semanas o público perde o interesse sobre o tema e é preciso buscar outra história. As reportagens especiais viram notas de rodapé e os bombardeios que matam centenas ou milhares, que antes ganhavam minutos, passam a ganhar segundos. Por que? Porque se tornou normal, a tal da rotina.

Então por que voltar a falar da Síria sem falar da guerra? Pasmem, porque lá também tem futebol. Pasmem, também se classificaram para as oitavas de final na Copa da Ásia pela primeira vez. E se alguem tem dúvidas sobre a importância do futebol para um país, basta ver a emoção de quem realmente é dali. O argentino Héctor Cuper, treinador, merece todos os méritos por ter guiado a seleção para este feito, mas parece não entender exatamente a importância. Só quem vive em guerras que não existem vencedores sabe o que é saborear a vitória pela primeira vez. A emoção é dos sírios, Mahmoud Fayez (auxiliar técnico) e do repórter.



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