Un año mucho loco. 2023 será inesquecível no futebol boliviano, afinal teve de tudo, parecia que sequer terminaria, após escândalo de manipulação, uma extensa rede de corrupção, e consequente cancelamento “irreversível” do campeonato, até que foi revertido. A bola não rolou por um mês e meio no país em meio às investigações que ainda não terminaram e nem puniram. Pero había que se jugar la pelota. Aí o ano acabou e teve até artilheiro brasileiro.
Nem Cristopher Nolan seria capaz de escrever algo tão confuso, mas a federação boliviana provou que entender Ilha do Medo é fichinha quando comparado ao futebol do país. O contexto rápido anterior a 2023 é o seguinte: a pandemia da Covid-19 obrigou a mudança do formato Apertura e Clausura para um campeonato único entre 2020 e 2021; em 2022 foi retomado o modelo de turnos, mas o último Clausura não foi encerrado devido a uma greve geral no país, que tornou impraticável a disputa das rodadas finais. O The Strongest era o líder até a interrupção, mas não foi declarado campeão e a disputa acabou sem ter terminado.
A expectativa em 2023 era de normalização no futebol do país, já sem pandemia e com situação política mais estável, pelo menos quando comparada ao último trimestre de 2022. Tudo corria normalmente (ou achavam que corria), até uma rede de manipulação de resultados ser desmantelada, com suposto envolvimento de diversos agentes, desde jogadores e árbitros, até dirigentes e os próprios clubes. O esporte no país estava manchado e a decisão foi anular todas as disputas no mês de agosto, novamente com o The Strongest como maior insatisfeito, pois liderava o Campeonato Boliviano e ficava mais uma vez sem o título.
A reviravolta
Não existia clima para a volta do futebol na Bolívia. O sentimento geral era de desconfiança sobre o sistema e de impunidade. Judicialmente, ninguém ainda foi punido, apenas houveram mudanças como no Conselho Arbitral e demissão de alguns árbitros. Por outro lado, existia uma pressão externa exercida pela Conmebol para a decisão dos representantes bolivianos nas copas Libertadores e Sul-americana de 2024.
Em meio a esse cenário, houve até uma votação entre os clubes da primeira divisão sobre o futuro da disputa. Apenas o The Strongest e o Jorge Wilstermann foram contrários a anulação. A proposta apresentada pela federação e Ministério Público do país era a criação extraordinária de um torneio express, apenas para que não houvesse mais um ano sem campeão e também para atender às exigências da Conmebol. O The Strongest, munido pelo sentimento de sair-se prejudicado mais uma vez, foi publicamente contra o torneio alternativo.
“A proposta e determinação do Comitê Executivo é de retomar ambos torneios (Campeonato Boliviano e Copa da Liga), estamos com o prazo próximo do limite”, declarou no fim do mês de setembro Fernando Costa, presidente da Federação Boliviana de Futebol, acrescentando, à época, que diversos avanços foram feitos nas investigações e que o tribunal local seguiria trabalhando por resoluções – até hoje ainda não esclarecidas.
Enfim campeão e artilheiro brasileiro
O retorno oficial do ex-cancelado Campeonato Boliviano foi em outubro. O The Strongest manteve sua liderança intacta e voltou a ser campeão após seis anos, encerrando um jejum que só foi maior por causa de uma greve lá em 2022, que nada tinha a ver com futebol, mas impediu o título no ano passado. O fantasma quase passou de novo, só que desta vez o Tigre de Achumani levantou o troféu na última semana.
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Chico Copa da Liga Boliviana 2023 |
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O outro torneio que havia sido prejudicado pela bagunça boliviana era a Copa de laa División Profesional, uma espécie de Copa da Liga, torneio inédito que teve sua primeira edição neste ano. A Copa da Liga também sofreu com os escândalos e estava no mesmo bolo de anulação, mas também foi retomada e teve seu campeão definido na segunda-feira. O Bolivar bateu o Jorge Wilstermann na final, que teve participação fundamental do atacante brasileiro Chico.
Cria do Athletico Paranaense, Chico nunca atuou profissionalmente no Furacão, fez carreira em clubes do interior catarinense, gaúcho, paranaense e mineiro, até se transferir para o México. Após três anos por lá foi para o Paraguai, passou também pela Colômbia, e conseguiu a redenção jogando na Bolívia.
Chico marcou dois gols nos jogos das finais. No jogo de ida, fez um gol na vitória por 2 a 1, fora de casa, e no jogo de volta foi autor do tento que garantiu o título da primeira Copa da Liga da história da Bolívia. O brasileiro, ainda, terminou como artilheiro do torneio, com nove gols marcados.
Assim, o título do Bolivar, o fim do jejum do The Strongest e a artilharia brasileira colocaram o ponto final na temporada boliviana. Mucho loca, pero hermosa.
Festeje no más hijo mío Ronnie Fernández @ronnie9fs
2 temporadas y 2 títulos con Papá Bolívar, justo y merecido campeón. @Bolivar_Oficial
Felicidades pueblo bolivarista pic.twitter.com/6VadQwkZyd— Jofer (Jorge Fernández Barros) (@Jofer0569) December 19, 2023