Fora do Eixo um espao para falar de clubes muitas vezes excludos dos debates de futebol, para comentar seus momentos e destaques.
Os grandes momentos do futebol brasileiro dependem da torcida. Ficam mais bonitos com milhares de torcedores e essa é uma afirmação que poucos devem duvidar. Então quando a primeira divisão nacional conta com times de massa, que arrastam multidões, é motivo para comemorar. Essa comemoração está garantida (ou 99%) com o acesso do Vitória, atual líder da Série B e que pode vivenciar um momento histórico: o seu primeiro título nacional.
A grande verdade é que nem mesmo o mais otimista dos torcedores do Vitória iria imaginar uma campanha tão boa após anos tão ruins e depois até mesmo de um primeiro semestre de 2023 com péssimos resultados. O Leão neste momento lidera a Série B, com 64 pontos e pode garantir o acesso na próxima rodada. Ainda precisa de uma combinação de resultados, mas é apenas questão de tempo.
Só que a história de superação do Vitória não começou agora, afinal todo início de enredo do tipo é com frustração. Há quase dois anos, o Leão perdeu em casa para Vila Nova por 1 a 0, e foi rebaixado para a Série C. Naquele campeonato foi o 18º colocado, com apenas 40 pontos conquistados. Antes disso, em anos anteriores, após o rebaixamento em 2018, já nem sequer figurava entre os postulantes ao acesso para a primeira divisão.
Então chegou 2022 e o que já era ruim pareceu que iria ficar ainda pior. Envolto em uma crise política, que acabou com afastamento do presidente Paulo Carneiro, e com graves problemas financeiros, o Vitória patinou no Campeonato Baiano, na Copa do Nordeste e ficou entre os piores times da primeira fase da Série C por um longo tempo.
Mas algo mudou, e mudou sem sequer uma sugestão de que iria mudar. Com pouco mais de 2% de chances de se classificar para o quadrangular final da Série C, o Vitória iniciou uma arrancada histórica sob o comando do técnico João Burse. Terminou a primeira fase no sétimo lugar e foi disputar o acesso.
No quadrangular, novamente nada de vida fácil e foi para a última rodada em um jogo direto contra o Figueirense no Barradão, com o adversário ainda mantendo a vantagem de poder empatar. O resultado? 1 a 0, com gol de Santiago Tréllez para enlouquecer a torcida. O Leão rugiu e ressurgiu.
Mas passada a emoção, a sensação foi de que o Vitória apenas saiu de um lugar que não lhe cabe. A crise institucional era passado, mas o financeiro seguiu problemático. Isso só foi amenizado com boa gestão e forte presença do público novamente. O Barradão voltou a ser um local de milhares de torcedores.
“Quando eu cheguei no Vitória nós tínhamos 4 mil sócios e agora fomos para 25 mil. A média de público era de 4 mil pessoas e hoje passa de 20 mil. A torcida abraçou o projeto, eu só pilotei. Mostrei um projeto que a gente queria. O Vitória estava no fundo do poço. Sem a torcida, a gente continuava na Série C”, declarou neste ano o presidente do clube, Fábio Mota.
A campanha maravilhosa
Após frustrações (novamente) no Campeonato Baiano e Copa do Nordeste, o Vitória ganhou quase um mês de hiato até a estreia na Série B. Foi o suficiente para o técnico Léo Condé dar uma repaginada na equipe, o que gerou resultados surpreendentes. O antes irregular e errático Vitória começou a Segundona vencendo as cinco primeiras partidas e sem sequer levar gol.
Esse surpreendente forte início de Série B, um dos melhores da história da competição, mudou completamente as expectativas gerais: a torcida começou a acreditar e o elenco percebeu que o acesso era possível.
Apesar de alguns breves momentos de oscilação, o Vitória foi estável na maior parte do tempo e foi a equipe que mais liderou a segunda divisão, que neste ano segue bastante acirrada na luta pelo acesso. Até o momento são 22 de 33 rodadas como líder da Série B. Ainda dá para deixar mais uma na conta, já que tem 5 pontos de vantagem para o vice Atlético Goianiense.
Mais do que isso, das 33 rodadas já disputadas, o Vitória terminou apenas duas fora do G4, grupo que garante o acesso para a primeira divisão. O quinto lugar nas rodadas 15 e 16 foi o pior lugar da equipe comandada por Léo Condé. O Departamento de Matemática da Universidade Federal de Minas Gerais projeta o Leão com 99,92% de chances de acesso e 87,6% de chances de título.
Com a enorme campanha e cada vez mais perto de sacramentar o acesso, os jogadores já não escondem a ansiedade. “A ansiedade vai crescendo a cada rodada. Praticamente, esse jogo, no domingo, pode cravar o nosso resultado. Depende de outros resultados, mas temos que ver o nosso a cada jogo. “Será melhor em casa. Vai ser lindo”, projetou o zagueiro João Victor, em entrevista coletiva nesta semana.
Agora restam apenas cinco jogos para o Vitória nesta Série B, três deles dentro de casa. A primeira chance de garantir o acesso será contra o Juventude, mas ainda dependendo de outros resultado. O jogo seguinte, no dia 5 de novembro é contra o Vila Nova, no Barradão. Isso mesmo, dois anos depois, o mesmo adversário e com a história oposta para sacramentar o ressurgimento do Leão.
