O futebol brasileiro é conhecido por sua imprevisibilidade, e não foi diferente na Série B de 2023. Com uma última rodada repleta de emoções, a segundona nacional encerrou uma temporada de surpresas, com acessos e decepções inesperadas.
Vitória, Juventude, Criciúma e Atlético Goianiense agarraram as vagas de acesso para a elite de 2024. Sampaio Corrêa, Tombense, Londrina e ABC foram os rebaixados para a Série C. Destas oito definições, quatro saíram na rodada final, e com especial emoção na disputa pelo G4, com três clubes “batendo na trave” depois de fazerem sua parte na rodada.
Com o fim da disputa, separamos aqui algumas dos destaque e surpresas da Série B.
Vitória, o campeão inesperado
Quem confiava no Vitória no início da Série B? Provavelmente nem mesmo o mais fiel dos torcedores. Não há ponto de imaginar o Leão tão forte, com acesso conquistado por antecipação, com direito a título nacional, o primeiro em sua longa e tradicional história. O sucesso inesperado chegou a ser tema da nossa coluna “Fora do Eixo“. Do fundo do poço ao retorno à elite, toda a trajetória do time baiano foi improvável.
O Vitória foi certamente a grande sensação da Série B, justamente por tudo que envolveu esse caminho. No primeiro semestre, o Leão parecia muito mais candidato a nova queda, como a de dois anos antes. A mudança foi drástica, e em curto espaço de tempo, depois de fracassos retumbantes no Baiano, em que sequer ficou entre os semifinalistas, e na Copa do Nordeste, em que terminou como vice-lanterna de seu grupo.
A reconstrução do Vitória passou pelo bom trabalho de Léo Condé, técnico de apenas 45 anos e com alguns trabalhos interessantes em times de menos tradição. Passou também por desempenhos inesperados de alguns atletas, como o veterano Osvaldo, que fez provavelmente sua melhor temporada na carreira depois de um ano sem muito brilho no CSA. O atacante acabou como campeão de assistências na Série B.
Vindos da elite, Ceará e Avaí decepcionam
É natural a Série B ter entre os favoritos ao acesso justamente os clubes que acabaram de se juntar a ela, vindos da elite nacional. Afinal, são clubes na maior parte das vezes com orçamentos superiores, capacidade maior para atrair bons nomes, e muitos deles com tradição. Atlético Goianiense e Juventude, no sofrimento da última rodada, conseguiram o retorno à primeira divisão, no conhecido efeito ioiô. Já Ceará e Avaí…
O Vozão foi uma das maiores decepções de 2023. Afinal, há dois anos o Ceará parecia em franca ascensão. Com o arquirrival Fortaleza em alta, o futebol do estado surfava em euforia, com a expectativa de um sucesso prolongado, capaz talvez até de colocar os dois principais clubes no eixo dos mais fortes do país, elevando novamente o sarrafo para o futebol do Nordeste. Mesmo em 2023, depois da queda para a segundona, o Ceará mostrou força e foi campeão da Copa do Nordeste.
De um dos favoritos ao título, o Ceará acabou por sequer brigar a sério pelo retorno à elite. O campeão do Nordeste ficou apenas com um 11º lugar, em um efeito inverso ao que aconteceu com o Vitória.
Pior ainda fez o Avaí. Em crise, o time catarinense chegou a flertar com a queda para a Série C. Ao menos se salvou do pior, mas ficou apenas em 13º lugar.
Tigre ruge e volta depois de 10 anos
No futebol catarinense, quem acabou por surpreender foi o Criciúma. Conhecido por manter uma base fiel de torcedores, o Tigre será um dos poucos times da elite a não atuar em uma capital de Estado, Foram anos de espera para isso.
A última participação do Criciúma na elite havia sido justamente em 2014, quando terminou na lanterna do Brasileirão. Embora o acesso venha com alguma surpresa, o time catarinense já vinha dando sinais de que seria um concorrente competitivo na disputa da segunda divisão. Afinal, foi o campeão estadual, em uma disputa que contava com Avaí, Figueirense e Chapecoense (embora todos em crise).
A Chape, inclusive, escapou por pouco do rebaixamento. Só o fez na última rodada. O Criciúma será o representante solitário de Santa Catarina na elite no próximo ano.
Sport, de sensação a decepção
Talvez o percurso menos previsível da Série B tenha sido o do Sport. Sensação no primeiro semestre, o campeão pernambucano havia batido na trave na Copa do Nordeste, com o vice, mas encantava o Brasil com seu futebol ofensivo e de goleadas.
O Sport passou a maior parte do tempo na Série B entre os quatro primeiros, embora sempre com alguma inconsistência. Foi apenas na 35ª rodada que os resultados ruins tiraram o Leão da zona de classificação para a elite. Para piorar, a relação entre jogadores, técnico e torcida se deteriorou, tornando ainda mais improvável a reação.
Abalado emocionalmente, o Sport tentou reagir no último jogo. Venceu e rebaixou o Sampaio Corrêa. Mas ficou mesmo de fora do G4. Se o Leão da Barra surpreendeu pelo lado positivo, o Leão da Ilha terminou o ano de forma melancólica.
