A Terra do Sol Nascente se tornou um território fértil para os artilheiros brasileiros. Nas últimas seis temporadas da elite japonesa, cinco delas tiveram brasucas como goleadores. Em 2023, Anderson Lopes foi o nome da vez e, na sua nona temporada no futebol asiático, o centroavante promete manter a escrita.
“Vivo um momento muito especial aqui no Marinos. Pelo terceiro ano consecutivo estamos disputando títulos, pelo terceiro ano estou na briga pela artilharia. É a melhor fase da minha carreira”, enalteceu o atacante em entrevista ao oGol.
Anderson desembarcou no Japão em 2016, cedido pela Tombense por empréstimo ao Sanfrecce Hiroshima. O atacante declarou ter sentido amor à primeira vista no futebol asiático e desde então seguiu atuando no continente. Em nove anos, o atacante passou por Consadole Sapporo, do Japão, FC Seoul, da Coréia do Sul, Wuhan FC, da China, e, atualmente, joga pelo Yokohama Marinos. O brasileiro soma 111 gols marcados pelos cinco clubes que defendeu.
“Em 2016, estava no Athletico Paranaense e sabia que teria pouco espaço, então pedi para sair e ter um novo desafio, até que surgiu a oportunidade no Japão. Desde que cheguei aqui, tive algumas saídas para clubes do futebol asiático, mas logo cedo eu vi que o Japão é o meu lugar”, declarou o brasileiro.
Com a experiência de ter atuado em outros mercados do continente, Anderson reforça a evolução do futebol japonês. Para o atacante, as ligas vizinhas estão em um nível abaixo técnica e fisicamente.
“Eu costumo dizer que se você não estiver 100% focado e preparado para atuar no Japão, você não consegue render. Já tiveram jogadores brasileiros e europeus que passaram pelo país achando que apenas a técnica e qualidade seriam suficientes e acabaram se surpreendendo. É uma competição de alto nível, que exige muito da parte física”, definiu o atacante.
Em busca do título inédito
Apesar da temporada japonesa estar apenas no início, Anderson terá uma grande decisão já no próximo mês. No seu terceiro ano pelo Yokohama Marinos, o brasileiro tem a chance de levar o clube a uma conquista inédita: a da Liga dos Campeões da Ásia.
Depois de 34 anos, o Marinos voltou a uma semifinal continental. A última vez havia sido em 1990, quando o clube fez justamente sua melhor campanha e ficou com o vice, perdendo na decisão para Liaoning, da China. A campanha histórica tinha no elenco o zagueiro Oscar e o atacante Renato, ambos convocados para defender o Brasil na Copa do Mundo de 1982. O time ainda contava com o nipo-brasileiro Wagner Lopes, ex-seleção japonesa e autor de um dos gols na final da Champions Asiática.
Após três décadas, Anderson tem a chance de conquistar pela primeira vez o título na sua carreira e também na história do clube. Poupado na fase de grupos para atuar no campeonato nacional, o brasileiro tem três gols e uma assistência, em quatro jogos na fase final da competição.
“Eu me preparei para este momento, sabíamos que logo no início da temporada teríamos estas decisões. É um título inédito para o clube e é tratado com muito carinho, então estamos nos preparando para brigar por essa conquista e sonhando em disputar o Mundial de Clube”, explicou Anderson.
A classificação para a semifinal veio diante do Shandong Taishan com duas vitórias, em casa e na China, comandadas pelo faro de gol do atacante brasileiro, que balançou as redes duas vezes. Para chegar na decisão e enfrentar Al Ain ou o badalado Al Hilal, o Yokohama Marinos terá pela frente o Ulsan Hyundai. Anderson ressalta rivalidade com os times coreanos, que intensificam o tom da partida.
“Quando se enfrenta um clube chinês ou coreano, é como se fosse um campeonato à parte. Tratamos como clássico, ninguém quer perder e isso deixa o confronto ainda mais emocionante”, completou.
‘Pupilo’ de Walter e desejo de atuar no Sport
Anderson é natural de Pernambuco, mas despontou no futebol do outro lado do país. Criado no Celeiro de Ases, o atacante permaneceu por sete anos nas categorias de base do Internacional. O jogador conta que sua ida para o Rio Grande do Sul teve a participação fundamental do conterrâneo e, na época, jogador colorado, Walter.
“Posso falar que o Walter acreditou em mim e me deu uma oportunidade, me tirando do bairro do Coque, no Recife, e me levando para jogar no Sul com 13 anos. Fiquei dois meses no São José antes dele me levar em definitivo para o Inter, onde eu fiz toda a minha base”, relembra Anderson.
Prodígio colorado, o atacante não conseguiu iniciar sua carreira profissional no Beira-Rio e ganhou uma nova chance no Avaí. Pelo Leão Catarinense, Anderson terminou sua formação e estreou no elenco principal em 2013.
Antes de deixar o futebol brasileiro três anos depois, o centroavante ainda defendeu Marcílio Dias, Tombense e Athletico Paranaense. Sem atuar no Nordeste, o pernambucano não esconde o desejo de ainda jogar pelo seu time do coração.
“Eu estive na minha cidade recentemente e sempre falei abertamente que sou torcedor do Sport. Ainda sonho em um dia vestir a camisa do clube”, contou.
Anderson ainda tem mais um ano de contrato com o Yokohama Marinos e ressalta que não tem pressa de retornar ao Brasil. Vivendo a melhor fase da carreira, o brasileiro colhe os frutos da experiência adquirida no futebol japonês.
“Nos três anos que estou no Marinos, tive algumas sondagens de clubes brasileiros, mas não recebi nenhuma proposta oficial. Tenho contrato até o final do ano com o clube e não penso em voltar neste momento. Estou vivendo uma fase especial com o clube, disputando títulos, brigando pela artilharia, me sinto em casa em casa”, completou.
Na atual temporada, Anderson tem seis gols marcados e duas assistências em oito jogos. A média alta de participação em gols segue o embalo do último ano, quando o atacante terminou como artilheiro da J-League com 22 gols. Campeão japonês em 2022 e da Supercopa em 2021, o brasileiro quer seguir fazendo história e encerrar sua missão na Terra do Sol Nascente com a desejada Liga dos Campeões.
