A trajetória de Ramón Díaz em 2023 é daquelas únicas, curiosas, e tão aleatórias que parecem irrepetíveis. Veterano e repleto de conquistas na carreira, o técnico argentino começou o ano na Arábia Saudita, foi algoz do Flamengo no Mundial, e fez o caminho inverso do esperado: deixou o mundo árabe para vir ao Brasil lutar contra o rebaixamento. Acabou como herói no Vasco da Gama.
Com 64 anos, Ramón Díaz está longe de ser um novato. Os seus primeiros títulos de campeão na Argentina datam da década de 90: foram sete ao longo dos anos. Em 1996, inclusive, conquistou a Copa Libertadores pelo River Plate.
Ramón Díaz comandou clubes na Inglaterra, México, Egito, Paraguai, Emirados Árabes e Arábia Saudita. Foi campeão recentemente no Al Hilal, uma das potências do emergente futebol árabe. Comandou também a seleção do Paraguai. No Brasil, já havia tido uma “quase experiência”, em outro evento curioso: assinou com o Botafogo, mas nunca sentou no banco. O seu filho foi destacado para o lugar, enquanto Díaz se recuperava de uma cirurgia de emergência para retirada de tumor. Foram três jogos até a demissão antes de sequer pisar em General Severiano. O Bota caiu sem a ajuda do argentino.
Em 2023, Ramón Díaz, apesar de todo seu histórico, aceitou o convite do Vasco da Gama. Finalmente pisou no Brasil, e novamente em uma situação delicada. Mas logo fez uma promessa…
“O Vasco não vai cair”
Não era fácil ter tanta certeza. Poderia soar apenas como bravata. Afinal, ao fim de 15 rodadas, o Vasco tinha apenas três vitórias no Brasileirão, com 12 pontos somados e em 17º lugar. O lanterna, América, tinha apenas três pontos a menos. E o início não seria fácil. Sem muito tempo para conhecer o grupo e estabelecer novos métodos nos treinos, o técnico perdeu para Athletico Paranaense e Corinthians.
Há um Vasco antes e outro depois de Ramón. Apesar das decepções iniciais, o clube engrenou a partir da 18 rodada. Pela primeira vez manteve-se invicto por três partidas, já um feito considerando o mal início. O ponto mais marcante da virada de chave cruz-maltina, no entanto, foi o clássico da rodada 23, contra o Fluminense.
Contra um time que seria campeão da América na sequência, o Vasco mostrou sua força. Foi uma exibição de garra e bom futebol, com destaque para Rossi, Gabriel Pec e, principalmente, Vegetti, outro argentino fundamental para a arrancada do clube.
Ramón teve momentos difíceis e derrotas duras pelo caminho, e não foi o único a brilhar. Reforços internacionais experientes como Medel e Payet agregaram peso à equipe. A salvação veio apenas na última rodada, com vitória sobre o Red Bull Bragantino.
Inegável é a mudança de desempenho do Vasco com Ramón no comando. Dos 45 pontos conquistados pelo time no campeonato, 33 foram com o treinador. O aproveitamento de 47% dos pontos valeria top-10 no Brasileirão, mesmo em um ano caótico e de transição para a SAF.
Em 2024, o torcedor do Vasco espera não ter de passar mais uma vez pelo drama da luta contra o rebaixamento. Confiança em Ramón para isso não falta em São Januário.
