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A Teoria da Evolução do futebol e o cemitério dos camisas 10



Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, atravs de jogo de posio ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretaes do mesmo. Falo de ttica tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir alm. Como em uma conversa de bar. Sem espao para a saideira.

Observar Paulo Henrique Ganso jogar é como ver um conto de fadas da vida real em pleno século XXI. “Nenhum jogador encapsula os paradoxos de nossos tempos atuais tão bem quanto Ganso. Paulo Henrique Chagas de Lima é um jogador que não está nem aqui, e nem lá”, escreveu Jamie Hamilton, teórico do futebol que, apesar de britânico, observa com muita atenção os movimentos do nosso futebol. Ganso é um ponto fora da curva se falarmos de uma “Teoria da Evolução” do futebol. 

Uma viagem do naturalista Charles Darwin a Galápagos, arquipélago no Oceano Pacífico, no início da década de 1830, mudou por completo a nossa percepção da história da vida. Ao observar as diferentes espécies de tartaruga da região, Darwin chegou a uma conclusão: nada mais eram do que produto da evolução. As espécies que, no fim, prosperaram, foram aquelas que melhor se adaptaram às condições do ambiente em que viveram. É a base de toda a teoria revolucionária que ganhou, até, a chancela, com ressalvas, da Igreja Católica, unindo, mesmo que com um pé atrás, fé e ciência. 

Podemos usar um pouco da teoria de Darwin no jogo mais popular do mundo. Desde o começo, no Reino Unido, onde as equipes, no primórdio do jogo, priorizavam os aspectos físicos, até a Era Moderna, onde os analistas e a inteligência artificial dão nova perspectiva a forma como todos nós enxergamos o esporte. 

Jonathan Wilson, autor de A Pirâmide Invertida, disse bem: “No começo, havia o caos, e o futebol não tinha forma”. Na essência, o autor destacou assim os primeiros anos do jogo: “o jogo essencialmente envolvia dois times tentando levar um objeto esférico rudimentar a alvos em lados opostos de um campo imaginário. Era violento, indisciplinado e anárquico”. Tanto que, em muitos lugares, foi considerado ilegal. 

Com o tempo, vieram as regras. Depois dos anos 1920, o esporte foi começando a ganhar um olhar tático mais aguçado. O 2-3-5 foi um dos esquemas mais rudimentares. O WM (3-2-2-3) ganhou forma e fama com Herbert Chapman no Arsenal. Os meias foram começando a ganhar importância. 

Na formação do WM, o camisa 10 aparecia ao lado de outro “atacante interior”, ou meia, atrás do centroavante, pelo lado esquerdo. Richard Williams, autor de The Perfect 10, ou O 10 Perfeito, explicou que o fato de o 10 ter ficado marcado como o “criativo” do time foi por geralmente o “interior esquerdo”, que vestia essa camisa, atuar mais adiantado, por se tratar, normalmente, de um canhoto, reforçando a crença futebolística que os canhotos tendem a ser mais criativos. 

Ferenc Puskás foi, talvez, o primeiro camisa 10 a dar ao número uma mística especial. Tinha uma leitura de jogo perfeita, um passe cirúrgico e uma genialidade que o jogo não estava acostumado. Era craque. Foi o Maestro de uma seleção húngara inesquecível, e foi soberano na Europa com o Real Madrid. 

Pelé elevou o status do camisa 10 a níveis olímpicos, divinos. Foi um dos maiores gênios que o mundo viu, e fez da camisa o objeto de desejo de qualquer menino que sonhasse jogar futebol. Todo mundo queria ser camisa 10. Anos mais tarde, Platini foi também, Zico, depois Maradona, Francescoli, Baggio e Zinedine Zidane (apesar de ter sido 5 no Real Madrid, não perdeu a alma de 10). Chegamos em Lionel Messi. Talvez o último dos românticos. 

enganche, o trequartista, a referência criativa do time, se perdeu com o tempo. Recentemente, Messi refletiu sobre isso em conversa justamente com Zidane. 

“O 10 nosso, característico argentino, Riquelme, Aimar, há poucos. Ou não há. Se perdeu muito ao longo dos anos”, começou a refletir La Pulga, endossado por Zizou. 

“Hoje, não é tão importante como antes (o número 10). O 10 hoje mudou, a posição mudou. Se joga em 4-3-3, 4-4-2…”. 

A mesma evolução tática que, há décadas e décadas atrás, ressaltou a importância do camisa 10 no futebol, também modificou sua dinâmica, e fez perfis como os de Ganso serem cada vez mais raros no esporte. 

“O Ganso tem essa característica, Alan Patrick, Veiga também tem. Zidane também tinha, talvez o maior expoente dos últimos 50 anos. O futebol foi mudando a característica, um jogador com essa característica deu um passo atrás, Modric, Iniesta. Não tem mais esse jogador pensador. O Veiga é muito mais um meia que chega e finaliza do que um que articula o jogo. O jogo deu uma mudada muito grande”, analisou o técnico da seleção brasileira e do Fluminense, Fernando Diniz. 

Na própria seleção que viu brilhar Pelé, que teve no tricampeonato um time com cinco camisas 10, que também foi palco de Zico, Ronaldinho, e tantos outros craques, hoje não tem um jogador que ocupe essa função. O 4-2-4 não dá espaço para um camisa 10. Assim como o 4-4-2 e o 4-3-3, esquemas citados por Zidane e Messi. 

“O número 10, que era muito característico, não entra nesses sistemas. Dessa maneira, se perdeu a formação desse jogador”, foi ainda mais longe Messi. A formação do camisa 10 se perdeu no tempo. Está em processo de tornar o número um fantasma evolutivo. Pelo menos da forma como todos o conheciam. 



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