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Michael Quarcoo: O lateral artilheiro da Copinha que jogava com laranjas em Gana


Michael Quarcoo foi o “defensor” com mais gols na Copinha. Nascido e criado em Agona Swedru, em Gana, o jovem, destaque do Capital, do Distrito Federal, já é procurado por clubes da elite do futebol nacional. Independente de qual será seu futuro, a certeza é que Michael já é um vencedor. Aqui, contamos um pouco de sua história. 

Filho dos comerciantes Emmanuel Quarcoo e Leticia Appiah, Michael vivia com os pais em uma casa conjugada em sua cidade natal, junto com outras 15 pessoas. Não tinha luxo. Tinha um sonho: se tornar um jogador de futebol. Sonhava como muitos brasileiros. E também como muitos brasileiros, teve uma infância difícil, marcada por problemas financeiros.

“A vida em Gana é dura, especialmente por questões financeiras. Nós passamos por dificuldades. Por isso, trabalho duro, para realizar os meus sonhos e, também, conseguir ajudar”, disse Michael, em conversa com a reportagem de oGol.

O amor platônico em Gana

O jovem ganês viveu, durante muitos anos, um amor platônico com o futebol. Via outras crianças jogarem no campo sem poder fazer o mesmo. Usava uma laranja nas ruas para fingir que era uma bola. Lá, idealizava o jogo, vivendo uma realidade utópica. 

“Eu ia sempre ao campo para ver outras pessoas jogando futebol, e ficava lá assistindo. Eu não jogava, porque não tinha dinheiro para comprar uma chuteira. 
Quando jogava, jogava na rua, descalço. Usávamos laranjas como bola e nos divertíamos”, contou. 

@Divulgao

Ainda criança, recebeu do tio o presente mais aguardado: um par de chuteiras. Foi uma festa só! Enfim, poderia se juntar as outras crianças no campo para brincar de bola. 

“Eu tinha oito anos quando ganhei minha primeira chuteira, do meu tio. Eu lembro que fiquei tão feliz que dormi com as chuteiras aquele dia e só fui tirá-las pela manhã”. 

A festa, porém, durou pouco. Michael não conseguiu jogar no campo com as outras crianças, como tanto queria. Teve as chuteiras roubadas. O amor platônico seguiu. 

“Eu nem cheguei a ficar uma semana com aquelas chuteiras, nunca cheguei a jogar com elas, porque foram roubadas. Como a gente vivia em uma casa com outras pessoas, era difícil saber quem as roubou. Me pergunto até hoje. Nunca mais vi as chuteiras…”, lamentou. 

O jovem ganês transformou frustração em determinação. Colocou na cabeça que ia jogar futebol um dia. Que aquele amor iria ser retribuído. Juntou dinheiro: trabalhou no comércio com o pai, e também em outros serviços, como garçom, e conseguiu, com gorjetas, comprar novas chuteiras. 

“Eu só pude jogar futebol depois de completar a escola. Meus pais me obrigavam a ir. Eu chegava da escola já tarde, e não podia sair. Quando acabei a escola, eu comprei um par de chuteiras para mim. Eu ajudava meu pai na loja, e ganhava algumas gorjetas também, então guardei dinheiro e comprei a chuteira assim que terminei a escola. Tinha 15 anos”, contou com orgulho. 

Sonho no Brasil

Michael foi indicado por um parente e começou a jogar na Grassroots Soccer Academy. Jogou o campeonato nacional sub-17 e se destacou, sendo campeão e artilheiro. Um ex-jogador ganês, que hoje é scout da região, mas que no passado chegou a atuar no Brasil, o apresentou a um clube brasileiro, o Capital. 

“O senhor Akowe, que é ex-jogador e chegou a atuar no Brasil, conhece a diretoria do Capital. Então falou com eles sobre mim, enviou meus vídeos e eles gostaram”, explicou Michael.  

O jogador não pensou duas vezes, e aceitou o desafio. O Capital pagou as passagens e alojou o ganês em suas dependências. Com o apoio da família, Michael viajou ao Brasil.

“Essa foi minha primeira viagem, então estava feliz, porque queria deixar minha família orgulhosa. Também sonho jogar na Europa, em países como Portugal, França, Espanha, e Inglaterra. Então sabia que vir ao Brasil seria como um trampolim para mim”, comentou.

@Divulgao

No Brasil, Michael ainda tenta se adaptar, principalmente, ao idioma. Sabe dizer bom dia, boa tarde, e boa noite, assim como algumas palavras de jogo. O suficiente para fazer o que ama: jogar futebol. 

Vice-campeão do Candangão sub-20 com o Capital, Quarcoo recebeu a chance de participar do maior torneio de base do país, um dos maiores do mundo: a Copa São Paulo. 

“Eu não conhecia a Copinha. Foi depois que conseguimos a vaga que ouvi sobre ela. Eu não sabia o que era. Mas é uma competição muito grande, gostei de ter participado”, revelou. 

O ganês foi um dos grandes destaques da Copinha, que será decidida, na quinta, por Corinthians e Cruzeiro. Em cinco jogos, marcou seis gols. Mesmo atuando na lateral. Michael explicou o sucesso, confessando que esperava ainda mais.  

“Eu sou ponta, mas no Brasil comecei a jogar na lateral para ajudar minha equipe. Os atacantes deram espaço para eu avançar em overlap, então sempre avançava. Eu esperava marcar até mais gols”, ressaltou. 

O status de defensor com mais gols na Copinha já atrai o interesse de grandes equipes do futebol brasileiro. Com ofertas da elite do futebol nacional, Michael garante foco ainda no Capital. O jogador se juntou ao time principal, que disputa o Estadual. 

“Há muitos clubes em contato com o Capital, e eles ainda estão decidindo. Eu não sei quais clubes, eu continuo focado em trabalhar duro no campo, agora no time principal. Ouvi que tem interesse de clubes da Série A, mas não sei muito sobre”, confessou. 

Com atributos físicos interessantes, um bom poder de decisão das jogadas, e um mental forte, Michael Quarcoo promete chegar longe na carreira. Já chegou, na verdade: bem longe de casa, orgulha os pais. É a esperança de uma vida nova para uma família. A Copinha já proporcionou isso a muitos meninos brasileiros. Hoje, com 22 estrangeiros, seis africanos, dá a mesma chance a atletas de diversos outros países, com histórias como a de Quarcoo.



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