Stephen Gillett, Richard Cole e Alex Lawes adicionam um pouco de “Molho Ingls” para oGol. A coluna dedicada ao futebol ingls – seja no cenrio de clubes ou seleo. Do “Dog and Duck” a Wembley, de Gazza a Wazza, o Playmaker pretende trazer-lhe novos ngulos sobre as histrias que importam.
A rede de observação e recrutamento do Brighton & Hove Albion é reconhecidamente uma das melhores do futebol mundial. Foi a partir dela que foram descobertos e moldados talentos como Evan Ferguson, Alexis Mac Allister, Julio Enciso, Kaoru Mitoma, Moises Caicedo e Ben White, e por valores relativamente baixos. Por isso a contratação de João Pedro no último mercado pareceu tão fora de contexto.
Quebrando o seu modelo, os Seagulls gastaram cerca de £30 milhões (R$ 186 milhões) para adquirir o atacante do Watford. Seria justo sugerir, no entanto, que o proprietário Tony Bloom só autorizaria esse tipo de negócio se houvesse um grande benefício para o clube; primeiro no sentido futebolístico e depois no financeiro – e dado o fato de terem vendido jogadores como Caicedo com um lucro de quase £100 milhões, uma venda milionária certamente está nas mentes dos diretores do Brighton.
Isso, porém, é, como mencionado, para o futuro. Agora, trata-se de aproveitar o enorme potencial em campo do atacante de 22 anos, nascido em São Paulo e revelado pelo Fluminense.
A evolução é palpável. Depois de início lento na Inglaterra com o Watford, João Pedro logo se estabeleceu como um dos melhores, se não o melhor, jogador da segunda divisão com os Hornets. Um clube que, por sua vez, também se tornou famoso por sua política de recrutamento sob a propriedade da família Pozzo.
O Brighton é uma equipe que não costuma falhar – especialmente quando fazem investimento tão significativo. O clube claramente enxerga um futuro incrível para o jovem ex-Flu, que já está causando impacto na competição da Uefa. Foram cinco gols na Liga Europa, além dos cinco na Premier League.
Fluxo brasileiro é tendência recente
A contratação de jogadores do Brasil para a Inglaterra não vinha sendo tão comum desde as polêmicas transferências dos argentinos Carlos Tevez e Javier Mascherano, do Corinthians para o West Ham United, em 2006. Uma política bem diferente da praticada na Espanha, por exemplo.
O Real Madrid, em particular, fez questão de trazer jovens promissores do Brasil. Endrick, do Palmeiras, é o mais novo a seguir o caminho de Vinicius Junior e Rodrygo. Vitor Roque, do Athletico Paranaense, também seguirá para o futebol espanhol, embora para o rival Barcelona.
O Watford, mencionado anteriormente, quebrou um pouco o molde inglês quando trouxe Richarlison em 2017 – também do Fluminense, assim como João Pedro três anos depois.
As mudanças diretas do futebol brasileiro para o inglês têm se tornado mais comuns. André, outro jogador do Fluminense, é cotado no Liverpool e em outros clubes da Premier League, e pode ser uma das grandes transferências de janeiro. Outros seis jogadores se mudaram diretamente do Brasil para a Premier League na temporada 2022/23. O Nottingham Forest trouxe Gustavo Scarpa e Danilo do Palmeiras, entre os negócios mais notáveis (embora Scarpa não tenha se adaptado).
O Real Madrid iniciou a tendência e muitos parecem simplesmente estar seguindo o exemplo – especialmente após o Brexit. Mudanças nas regras para obtenção de vistos de trabalho tornaram mais fácil ou benéfico focar em sul-americanos, devido ao elevado número de equipes que participam de competições continentais, como a Libertadores ou Sul-Americana, fator que agrega pontos no processo. Redes de observação, quase copiando ou pelo menos buscando emular clubes como Brighton, Watford e Udinese no passado, também têm como objetivo vasculhar o mercado no Brasil e na América do Sul.
João Pedro continua a crescer como jogador e a fazer seu nome e caminho na elite do futebol inglês, mas trajetórias de carreira como a dele podem se tornar bastante comuns com o tempo.
Texto por Alex Lawes
