Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, através de jogo de posição ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretações do mesmo. Falo de tática tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir além. Como em uma conversa de bar. Sem espaço para a saideira.
Henrik Rydström é mais um exemplo: um futebol diferente, audacioso, que desafia a norma atual, é possível. Campeão com o Malmö na Suécia, Rydström se inspira e se junta a Fernando Diniz, técnico do Fluminense e da seleção brasileira, no sucesso dos iconoclastas, desafiantes dos conceitos táticos posicionais que vinham ditando a norma recente do jogo.
Desafiar o sistema, para Rydström, soa ainda mais revolucionário na Suécia. Sua história é única, e sempre fora da curva. Quando ainda jogava, se escondia para ler livros no dia a dia do clube, até um dia um treinador colocar uma estante de livros no vestiário.
Rydström foi um jogador pouco técnico, definido como um guerreiro em campo, ídolo do Kalmar FF, com mais de 800 jogos pelo clube, com camisa aposentada por lá. Aprendeu que o foco durante as partidas deveria ser defensivo.
“Aqui (na Suécia), pensamos acima de tudo em trabalhar a parte defensiva, e não trabalhamos a estrutura com bola”, disse ao site sofoot.
Formado em literatura, escreveu críticas musicais para o jornal sueco Barometern, e um blog no jornal Dagens Nyeheter chamado Café, Futebol e Muito Mais. Em uma das colunas, chegou a brincar sobre sua falta de técnica como jogador.
“Nosso goleiro reserva, Petter Wasta, tem um amigo que pensa em mim quando faz sexo com a namorada. Ele pensa em mim para retardar a ejaculação. Meu estilo de jogo não é nada sexy”.
Mas o Rydström técnico é bem diferente. Desafiou o sistema a propor um jogo distinto desde seu início como treinador, no Kalmar, e também no Sirius. Até assumir o Malmö em 2023, em um momento complicado do clube. Sem perder a audácia.
“Quando vamos ao museu, ao cinema ou a um restaurante, queremos ter coisas para contar sobre o que acabamos de ver ou comer. Quando as pessoas vêm ver o Malmö, queremos que seja igual”. Assim foi feito.
Rydström conseguiu 20 vitórias em 30 jogos pelo clube, e levou a equipe ao título da Allsvenskan, a Liga Sueca, com uma performance diferente de tudo o que se viu no campeonato até então.
O Malmö de Rydström
Rydström já foi questionado se se inspirou no futebol do Fluminense, de Fernando Diniz, pelas similaridades conceituais com o atual campeão da Libertadores. Desconversou, mas garantiu buscar inspirações em todos os lugares.
“Aprendi muito no Twitter. Talvez eu não devesse falar isso, mas me inspirei muito ali. Há muita gente boa, que escreve muito bem e me ensinou muita coisa em nível teórico”, confessou o treinador para a revista local Café.
O Malmö de Rydström tem conceitos similares ao Flu de Diniz. Procura, por exemplo, congestionar a área do campo próximo ao portador da bola. O jogador vai até a bola, e não o contrário. Assim como o Fluminense, pode atacar com dois pontas do mesmo lado, e dá “liberdade poética” aos jogadores no último terço, com movimentos imprevisíveis e sem uma formação fixa. Às vezes, oito jogadores estão próximos da bola.
“Não tem ninguém na Allsvenskan que jogue como a gente. Vamos ver se alguém nos segue, ou se inspira na gente”, disse certa vez em coletiva.
Em algumas fases de jogo, porém, o clube apresenta estruturas mais fixas. Como na primeira fase de construção, que é feita em uma saída 2+2, com Peña e Lasse se aproximando para criar linhas de passe no meio para os zagueiros. Na fase defensiva, defende em 4-5-1 ou 4-4-2. Adota uma forte pressão alta, com rápida reação à perda. Diz se inspirar em No Surrender, de Bruce Springsteen. Sufoca os adversários, sem se render em momento algum.
Rydström tem a coragem de desafiar a norma do futebol sueco com o relacionismo, ou jogo funcional. Levando um pouco da América do Sul para o futebol europeu. Seguindo o sucesso dos iconoclastas.
