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Postecoglou: faltava um 'louco' para o Tottenham sonhar além


Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, atravs de jogo de posio ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretaes do mesmo. Falo de ttica tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir alm. Como em uma conversa de bar. Sem espao para a saideira.

“A diferença entre um louco e um gênio é o sucesso”. A frase, que ficou marcada nas eleições argentinas pelo candidato Javier Milei, que, convenhamos, tem muito de louco e (quase) nada de gênio, tem seu valor. E pode ser empregada, no futebol, no Tottenham de Postecoglou. 

Os Spurs, amargurados por decepções seguidas nas últimas temporadas, sem força o suficiente para almejar um título (mesmo quando esteve em finais), encontraram no técnico greco-australiano uma figura capaz de fazer o torcedor sonhar novamente. Nem a derrota para o Chelsea, nesta segunda-feira, por 4 a 1, gera descrédito. Pelo contrário: aumenta a convicção.

O Tottenham já é um time diferente com Postecoglou, e explicamos por quê. Não apenas com os números, mas também com eles. Os números dizem algo da forma como Postecoglou vê futebol. O Tottenham é o segundo time com maior posse de bola na Premier League hoje (61% em média), atrás, apenas, do Manchester City de Pep Guardiola, e é ainda a equipe que menos busca lançamentos longos. Isso não diz muito, mas quando trazemos que é, também, o segundo time que mais toca na bola na área, o terceiro que mais finaliza e o segundo que mais finaliza fora da área, dizemos que é uma equipe objetiva, de posse de bola produtiva. Não cerca. Não toca para o lado. Toca para frente. Buscando finalizar os lances com eficiência.

Como joga o Tottenham de Postecoglou

O time de Postecoglou tem uma saída 2 + 1, com Bissouma baixando mais próximo dos zagueiros para dar opção de saída pelo meio. Sarr aparece mais na frente com Maddison. Quando o rival marca em blocos altos, Bissouma se une aos zagueiros em saída 3 + 1, com Maddison baixando para ser a primeira opção de passe pelo meio. 

Saída 2 + 1

O posicionamento dos laterais é diferente. Se Udogie aparece mais como uma opção pelo meio em um primeiro momento, às vezes invertendo com Maddison, mas sempre dando o fundo para o ponta daquele lado, do outro Sarr é quem aparece sempre pelo meio, e Porro aberto. Porro é opção importante de overlap naquele lado, já que Kulusevski, canhoto, busca muito o corte para o meio. 

Bissouma recua para saída 3+1, Maddison aparece como opção

Na fase ofensiva, o time conta com a boa conexão entre Bissouma e Maddison pelo meio, e também com as boas chegadas de Udogie e Pedro Porro. O italiano pisa mais na área (é o quinto jogador do time que mais toca na bola na área rival), enquanto o espanhol ataca mais a profundidade, conseguindo o triplo de cruzamentos que o companheiro que joga do outro lado (e com uma taxa de sucesso maior). 

A presença dos pontas é fundamental. Postecoglou tem, no elenco, jogadores de características diferentes, e consegue usá-las bem de acordo com o adversário. Richarlison virou, de vez, um ponta pela canhota, de força, com boa chegada na área. Salomon dá mais velocidade no setor, arriscando mais dribles e conseguindo dar a profundidade que Udogie não busca tanto. Do outro lado, Kulusevski é quase unanimidade, jogando todas as partidas da Premier League como titular. O sueco dá o fundo para Pedro Porro usar o que tem de melhor, e usa muito bem a canhota para criar chances de gol por dentro. 

O papel de Son por dentro é destacável. O coreano virou, de vez, a referência no comando de ataque do time, mas aproveita também as características de Richarlison para buscar trocas de posição e atacar outros espaços no campo vez ou outra. Mas responde, cada vez mais, pelos gols do time: marcou mais de 1/3 dos gols da equipe na Premier League (8 de 23). 

Um time de Bundesliga na Premier League

Na fase defensiva, ver o Tottenham jogar traz quase uma sensação de que você está assistindo um jogo da Bundesliga, tamanha eficiência do Gengenpressing. “O melhor momento para você ganhar a bola é imediatamente após perdê-la”. A frase, que resume o estilo de jogo, pode indicar também a estratégia de Postecoglou, com uma rápida reação à perda e marcação com blocos altos. 

Linha defensiva próxima ao meio

A transição defensiva é feita em 4-3-3, com os zagueiros aparecendo perto ou às vezes até na frente da linha do meio-campo para ajudar na pressão e, também, convidar o rival ao impedimento. No jogo contra o Chelsea, tivemos um festival de impedimentos e, também, de gols anulados por tal. A estratégia é tão bem assimilada pelos jogadores que os Spurs são o terceiro time que menos sofre finalizações na liga, e tinham, também, a terceira melhor defesa até a goleada sofrida pelo Chelsea. 

O jogo, inclusive, é um grande recorte, apesar do resultado desfavorável. O Tottenham, mesmo com dois homens a menos em campo, seguiu marcando com linhas altas e sufocando o rival na primeira fase de construção. Lutou, até o fim, com suas convicções. E só sucumbiu, principalmente fisicamente, nos minutos finais, com Jackson marcando os dois últimos gols já aos 49 e aos 52. 

“É apenas quem nós somos, cara. É quem nós somos e que nós continuaremos sendo pelo tempo em que eu estiver aqui”, resumiu o técnico greco-australiano após o encontro, sem qualquer arrependimento pela estratégia. 

Hoje, Postecoglou pode ser considerado um louco. Mas o futuro poderá dizer o contrário. Isso, porém, só para os chamados por Nelson Rodrigues de “idiotas da objetividade” (hoje a expressão provavelmente seria condenada por ser politicamente incorreta). Ver o Tottenham jogar nos faz enxergar a genialidade de um técnico fora do padrão, para dizer o mínimo. 



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