Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, atravs de jogo de posio ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretaes do mesmo. Falo de ttica tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir alm. Como em uma conversa de bar. Sem espao para a saideira.
O Botafogo ganhou sobrevida na Libertadores. Voltou a liderar o Brasileirão. E vem conseguindo afastar fantasmas que assombravam General Severiano. Artur Jorge, em pouco tempo, mudou a cara do time, e também recuperou a confiança de um elenco desacreditado.
Ainda é um início de trabalho, sem dúvidas. Mas a goleada sobre o Juventude e as vitórias sobre Universitario e Flamengo dão indícios de que algo de novo está sendo feito. As pistas estão em campo. E não ficam apenas com os resultados.
O que os resultados, na verdade, trazem no primeiro momento é um certo alívio: o Botafogo não sofreu gol nos minutos finais dos jogos. Contra o Fla, só conseguiu a vantagem de dois gols no terceiro minuto de acréscimo. Portanto, soube sofrer nos minutos finais.
Compactação e comprometimento talvez sejam os segredos desse início de trabalho de Artur Jorge. Obedientes taticamente, os jogadores conseguem se ajudar muito tanto na fase ofensiva, quanto na defensiva. O 4-4-2 harmonioso proposto pelo técnico apresenta duas linhas de quatro bem compactas na defesa, e movimentações inteligentes para aproximações e tabelas com a posse de bola.
A escolha de John na vaga de Gatito ressaltou uma saída 3+2, com o goleiro entre os zagueiros, Bastos e Halter. Ambos têm como pé dominante o direito. Barboza, canhoto, quando jogava na esquerda, verticalizava muito o jogo no setor. Bastos prefere achar um dos volantes no corredor central. A primeira fase é cadenciada. Mas quando a bola chega em Marlon Freitas ou Danilo, o jogo acelera.
Com Danilo, a bola corre. Com Marlon, há tanto a opção de um passe verticalizado, quando a de uma progressão com bola. O volante cresceu de desempenho com Artur Jorge. Não à toa, foi tratado como inegociável por John Textor.
O jogo sustentado, quando chega no último terço, conta sempre com aproximações e tabelas. A movimentação constante do quarteto ofensivo traz inúmeras possibilidades. A capacidade de atuar no corredor central de Savarino e Luiz Henrique proporciona diversas trocas de posição com a dupla de ataque. Os movimentos, sem posições fixas, confundem as defesas.
Eduardo, um camisa 10, ganhou a vaga de Tiquinho ao lado de Júnior Santos na dupla de ataque com uma capacidade até maior do que Tiquinho de desempenhar um movimento que Artur Jorge tanto gosta: o de recuar para buscar o jogo e dar espaço, assim, para as infiltrações dos companheiros. Tchê Tchê tem boa leitura dessa jogada para, com movimentos de ruptura, aparecer na área.
A presença de mais figuras decisivas na área para definir os lances fez com que o Botafogo se tornasse um time mais eficiente. Vamos observar os números contra o Flamengo: o rival deu e acertou mais passes progressivos (de 72 passes, acertou 88%, contra 63 e 57% do Bota); bolas longas (de 46, acertou 59%, contra 34 e 50%) e passes para o último terço (70 e 83% contra 30 e 67%). Cruzou mais bolas (32 contra 7) e acertou mais cruzamentos (31%, contra 14%) que o Alvinegro. A diferença foi que de 59 ataques, o Fla finalizou 16 (27%). E pior que isso: não acertou NENHUM CHUTE a gol. O Botafogo, de 27, finalizou 9, e acertou 33% deles no alvo.
O Botafogo é mais eficiente porque é mais seguro. E é mais seguro porque é respaldado por uma ideia de jogo que consegue privilegiar o que o time tem de melhor. Taticamente ajustado, com a confiança de volta e, aos poucos, recuperando o apoio da torcida, o time caminha para um recomeço. Ainda embrionário. Mas com Luís Castro, também foi assim: em meio ao caos, pequenos sinais mostravam que o caminho poderia ser bonito. Dessa vez, porém, além da jornada com momentos inesquecíveis, os botafoguenses esperam um final feliz.