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Paulinho dribla o frio e o idioma e usa 'cultura dos números' para triunfar na Dinamarca



Cinco temporadas, dois títulos nacionais e muito aprendizado. O lateral Paulinho está perto de encerrar sua passagem pelo Midtjylland, mas não sem antes construir uma história de sucesso no clube dinamarquês. Em entrevista ao oGol, o brasileiro contou sobre a difícil adaptação e utilização dos números para evolução profissional.

Paulinho desembarcou em Herning em 2019, após deixar o Bahia. O lateral não tinha conhecimento sobre o futebol dinamarquês, mas as boas referências de ex-companheiros e de atletas brasileiros do clube fizeram ele aceitar o desafio. 

O clima e o idioma local foram adversários duros na adaptação. Acostumado ao calor de Salvador, onde esteve nas duas temporadas anteriores, Paulinho sentiu o frio do inverno europeu, mas confessou que seu principal rival na chegada foi a dificuldade na comunicação.

“Eu não falava inglês na época e me vi perdido nos seis primeiros meses. Eu não entendia bem o que o treinador me pedia ou que os meus companheiros me falavam e fui perdendo espaço no time”, revelou.

“Então, eu foquei na questão de aprender o idioma, eu sabia que era fundamental se eu quisesse jogar no nível que eu tinha a intenção de atuar aqui. Em seis meses consegui me virar bem e as coisas começaram a dar certo dentro de campo. Hoje sou fluente em inglês e sei o quanto isso determinou no meu crescimento dentro do clube”, completou Paulinho.

O estilo de jogo na nova realidade também precisou de adaptação. Com características ofensivas, Paulinho entendeu a cultura do futebol local e aprimorou os atributos defensivos para se encaixar com o estilo de jogo do Midtjylland.

“Eu evolui muito aqui principalmente na parte tática e defensiva. Aqui é uma escola muito diferente da nossa, onde o lateral tem como função primordial a marcação para depois pensar em atacar”, contou.

Assim como em muitas ligas europeias, a disciplina tática é uma questão levada com rigor na Dinamarca. O brasileiro avalia a liga local como muito competitiva, onde todos os clubes seguem à risca o modelo de jogo. 

“O futebol aqui é muito organizado. A cobrança é muito grande em relação à questão tática. Cada jogador dentro de campo cumpre detalhadamente sua função e onde um não estiver em sintonia o sistema não funciona”, completou.

Novato na Dinamarca e a cultura dos números

Fundado em 1999, o Midtjylland subiu para a elite dinamarquesa no seu primeiro ano profissional e nunca mais caiu. A ascensão do novato ambicioso resultou em três títulos do campeonato nacional e dois da copa. 

Com participação em um título de cada competição, Paulinho é apenas o nono brasileiro a vestir a camisa do Midtjylland. No clube desde 2019, o lateral está a dois jogos de ultrapassar o ex-companheiro Evander e se tornar o jogador brasileiro com mais partidas no clube dinamarquês.

Paulinho não poupa elogios para falar da mentalidade do clube e da estrutura oferecida aos jogadores. Novamente brigando pelo título da liga dinamarquesa, o Midtjylland aspira entre os “veteranos” Copenhague e Brondby e projeta seguir crescendo no cenário nacional e europeu.

“É um clube que não se apressa para atingir os objetivos maiores e entende o tempo e as etapas de cada processo. O mais importante é a evolução temporada após temporada. Sabem da dificuldade de desbancar os maiores clubes do país e, mesmo quando conseguem, mantêm o planejamento com os pés no chão”, definiu.

Por trás do sucesso do clube está a cultura dos números, inserida fortemente. A utilização de dados para aprimoramento do time não é nenhuma novidade no futebol mundial, em especial no europeu, mas Midtjylland se tornou um exemplo de sucesso no uso da tecnologia.

“É um clube que foca muito no desenvolvimento individual de cada atleta. Eu confesso que fiquei surpreendido no início com a quantidade de dados e informações individuais que estão à nossa disposição, seja nos treinos ou nos jogos”, avaliou Paulinho.

“Isso te permite identificar como está sua evolução em questões como chances criadas por jogo, desarmes em cada faixa do campo, enfim, uma infinidade de fatores. Como também nos possibilita a comparação com outros jogadores da mesma posição do clube ou de outros times da liga. Cabe ao atleta absorver estas informações”, exemplificou.

Na atual temporada, o Midtjylland conta com 22 atletas contratados de fora do país. O elenco diversificado com 14 nacionalidades diferentes também é tratado com atenção nas questões mentais e de adaptação. 

“É claro que o clube espera que você consiga ter um bom desempenho o mais rápido possível, mas aqui eles têm uma cultura muito paciente. Eles entendem que o jogador precisa de um tempo para se adaptar. Entendem que a maioria dos jogadores vem de um clima e uma cultura completamente diferente. Sempre tem dois psicólogos acompanhando os treinos e o dia a dia para oferecer qualquer ajuda nas questões mentais de cada atleta”, destacou o lateral.

Primeira Liga do Campeões e futuro da carreira

Desde que chegou ao Midtjylland, Paulinho disputou as três maiores competições europeias. Logo na sua segunda temporada, o lateral realizou um sonho de menino e entrou em campo pela fase de grupos da Liga dos Campeões. 

“Lembro de sair correndo da escola com meu irmão para assistir o jogo, falar com ele sobre um dia estar lá. É uma sensação incrível quando o hino começa a tocar. Foi o momento mais marcante da minha carreira”, relembrou o brasileiro.

Na temporada 2020/21, o Midtjylland passou por Ludogorets e Young Boys na fase preliminar antes de ingressar no Grupo D, ao lado de Liverpool, Atalanta e Ajax. O time dinamarquês se despediu da Champions com dois empates conquistados e o sentimento de ter feito o seu melhor na primeira experiência.

“A gente sabia da dificuldade de enfrentar estes clubes de outra dimensão. Não existia a expectativa de avançar de fase ou brigar de igual para igual com eles, mas foi uma experiência importante para o clube e para nós, jogadores. Fizemos o que estava ao nosso alcance, conseguimos um empate com o Liverpool, em casa, jogando bem. Mas ainda são clubes de outro nível, eu, por exemplo, tive que encarar Alexander-Arnold e Salah, no auge. É um nível absurdo”, brincou o lateral.

Campeão da Superliga da Dinamarca e da Copa, Paulinho entrou na reta final da sua trajetória em Herning. Com contrato até 2026, o brasileiro entrou em acordo com o clube e encaminhou sua saída no final da temporada. 

“Na próxima janela está tudo acertado para eu dar um próximo passo na minha carreira. Conversei com o clube e caso chegue algo que seja bom para os dois lados, estou liberado para negociar. Durante o tempo que passei aqui recebi algumas propostas do Brasil, que me interessaram, mas acabou não sendo atrativo para o clube e decidi ficar. Agora deixo as portas abertas tanto para um retorno, quanto para a permanência aqui na Europa”, contou.

Com 164 partidas disputadas, Paulinho pode se despedir do Midtjylland com mais um título nacional. O clube briga ponto a ponto com Copenhague e Brondby pela Superliga. Na sua temporada com mais participações ofensivas, dois gols e cinco assistências, o lateral traça a conquista como o objetivo principal para fechar com chave de ouro sua passagem no futebol dinamarquês.



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